Diário de Campanha

Não acredito em coisas que existem

Quando milhões de inteligentes e arrependidos comemoravam antecipadamente o certeiro impeachment de Dilma, no dia seguinte; na véspera, voltando da padaria, tive um “insight”! O Senado de Renan Calheiros, com aquela coisa doLewandowski,  ia dar um jeito de estragar a festa. Dá pra confiar, comprar alguma coisa usada destes dois? Nem ouro!

E não deu outra. Saiu um impeachment meia bomba, pela metade e com as declarações e justificativas mais nojentas da dupla dinâmica. Como o Brasil pode sair do buraco com dois presidentes deste naipe? Presidentes do Senado e do STF! Como o Brasil pode ser um país, num futuro que não verei, com os políticos que tem? Como o Brasil pode ser um país de verdade, com o povo que elege um Renan e um Lula que nomeia um Lewandowski? Círculo vicioso e pernicioso. Perigoso.

E também um Eduardo Cunha que, vale nada, igual aos seus pares, mas por mim está absolvido e perdoado pelo serviço que, “malgré lui”, prestou à nação. “Malgré lui”, em francês,  quer dizer “apesar dele”. Apesar dele porque ele tentou mil acordos com o PT antes da degola. Não conseguiu, levou a Dilma com ele.

E estes vagabundos não têm limite, se proliferam, se multiplicam, são como burros e mato, nascem aos montes. 99% do Senado e da Câmara dos Deputados merecem o “paredón”. Depois, a gente faz como os chineses e cobra a bala usada da família.

O mais novo exemplo vindo da Câmara, com o aval do Senado Calheiros, peguei do Gabriel Azevedo: “Eu não acredito em partidos políticos. Nada contra quem acredita. Só quero o direito de não acreditar numa ferramenta que considero obsoleta para a atualidade. Vejam, por exemplo, o que ocorreu ontem a noite (na calada da madrugada do dia 20 de setembro de 2016)… PMDB, PSDB, DEM, PR, PP e PT, dentre outros, unidos pela defesa de uma anistia pra quem cometeu Caixa 2 de campanha eleitoral. Em resumo, o plenário da Câmara dos Deputados tentou votar de surpresa, ontem à noite, projeto que abriria brecha para anistiar políticos alvos da Lava Jato. A sacanagem era a seguinte: anistia por caixa 2 cometido até agora, com base no princípio de que lei não retroage para prejudicar o réu. Temos todos de agradecer os deputados do PSOL (e não por serem do partido, mas por serem deputados que agiram como se espera) ao denunciar o esquema. Leiam os estatutos desses partidos que tentaram essa esculhambação. Cadê a coerência deles? A grande verdade é que partido no Brasil é mero cartório que confere legenda para se disputar eleição. Isso quando não ganha ares de organização criminosa. Já disse e repito: a grande meta de uma reforma política é garantir liberdade a quem não deseja se vincular a um partido para disputar eleições. 93% dos brasileiros estão fora do jogo e falo sobre isso nesse texto”.

Gabriel é um “gentleman”. Eu diria tudo o que ele escreveu, com outras palavras começadas em vai tomar… e vai pra…

Não dá pra confiar nestes caras, são como aquele escorpião. Este escorpião: “Um escorpião pediu a um sapo à beira do rio:

– Amigo, você poderia me carregar até a outra margem do rio?

O sapo respondeu:

– Só se eu fosse louco! Você vai me picar e eu vou ficar paralisado e afundar.

E o escorpião: – Isso é ridículo! Se eu o picasse, ambos afundaríamos e nos afogaríamos.

Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou. Quando chegaram no meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo. Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou:

– Por que você fez isto? Agora nós dois vamos morrer!

E o escorpião: “Por que sou um escorpião e esta é a minha natureza.”

E este “Eu não acredito…” do Gabriel é o contrário do “Eu acredito” do Galo.

Este “Eu não acredito…” do Gabriel lembrou-me a música “God” do John Lennon, onde ele “believe” em nada:

I don’t believe in magic. I don’t believe in I-ching. I don’t believe in Bible. I don’t believe in Tarot. I don’t believe in Hitler. I don’t believe in Jesus. I don’t believe in Kennedy. I don’t believe in Buddha. I don’t believe in Mantra. I don’t believe in Gita. I don’t believe in Yoga. I don’t believe in Kings. I don’t believe in Elvis. I don’t believe in Zimmerman. I don’t believe in Beatle. I just believe in me, Yoko and me, and that’s reality

The dream is over, o pesadelo começou.

Sou um pouco mais pessimista. Não acredito em John Lennon e muito menos na Yoko. Aliás, além de não acreditar na Yoko, também não a comeria nem com um pau emprestado pelo Renan Calheiros.

Depois a gente começa a ter fantasias patrióticas com o Jair Bolsonaro e ninguém entende, ninguém acredita…

ps: E não acredito nem na gostosa Natalie Portman que ilustra esta crônica. Como diz o Luis Fernando Verissimo: “Só acredito naquilo que  posso tocar. Não acredito, por exemplo, em Luiza Brunet”. Não, ele escreveu “tocar” e não, “bater”, please…

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