Por que tanta gente gosta tanto de política ou, melhor, porque tanta gente quer ser político, com ou sem vocação? E num tempo que, como agora, devido à cri$e, está aberta a temporada de caça a candidatos a vereadores e prefeitos. Caça de caçar, a tiros e de cassar, com o STF.
Gabriel é um exemplo claro de quem ama a política. Desde que o conheço, em 2010. Acho que já nasceu eleito, numa urna, não necessariamente instalada num estábulo. E não era eletrônica, no máximo elétrica. No tempo em que a Internet nem discada existia. Gabriel é jovem, mas a Internet é mais.
O Kalil é um caso mais pitoresco. Um cara ligado ao futebol. Futebol não: Gaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaalo! Uma cara que não se diz político, mas quer ser prefeito, talvez para ser um prefeito não político. Não deixa de ser original.
Dinheiro e poder? Por mais que sofram acusações, poder e dinheiro não são pecados. Podem sim, gerar, atrair; crimes e pecados, mas não necessária e obrigatoriamente.
Em minha filosofia de botequim, digo sempre que dinheiro e poder substituíram o sexo. O prazer mudou de endereço.
Há muito tempo, para se descobrir o motivo de um crime ou escândalo, bastava “chercher la femme”, “procurar a mulher”, era o popular “pode procurar porque tem ‘perseguida’ no meio”. Homens, poderosos ou não, faziam de um tudo por causa da mulher, mais particularmente por causa da “Caixa de Pandora” que elas têm entre as pernas: a “phoderosa”… Não à toa, no princípio era “Boceta de Pandora” e não “Caixa de Pandora”, sendo, boceta, uma espécie de caixa, invólucro… Faz sentido. Com um pequeno detalhe, aberta a caixa, todos os males do mundo sairiam, escapariam dela.
O tempo passou e como passou! A liberação sexual liberou tanto que o sexo virou bunda, todo mundo tem, ficou “fácil”. Homens não mais precisavam remover montanhas, mundos e fundos, por causa de uma vulgar vagina que toda mulher tem, dá, empresta, aluga, vende. Cleópatra não enfeitiçaria César e Marco Antônio nos dias de hoje. Pelo contrário, por poder e grana, talvez César e Marco Antônio encantar-se-iam um pelo outro.
Nos anos 70, durante o escândalo de Watergate e também no filme sobre Watergate, contando a desgraça e renúncia de Richard Nixon, o informante, o “Zé Delação Premiada”, que passou à história como “Garganta Profunda”, ensina aos jornalistas/Sherlock Holmes, o caminho das pedras. Se quisessem descobrir a raiz e os motivos do escândalo político, deveriam “chercher”, não a mulher, mas “l´argent”, o dinheiro. Mesmo sem sexo, aonde a vaca vai o boi vai atrás, para mamar nas tetas… Nas tetas da Viúva.
Caetano Veloso, que vive fazendo política de quinta, tem uma canção onde diz: “política é o fim”. Realmente, fim da foda!
Joaquim Pedro de Andrade foi um bom cineasta brasileiro. Insisto no brasileiro porque ele dizia: “Só sei fazer cinema no Brasil. Só sei falar de Brasil. Só me interessa o Brasil”. Morreu jovem, de tanto Brasil!
Fez apenas sete filmes. Não vi todos, mas meu favorito é “Os Inconfidentes”, de 1972, onde Tiradentes, em vez de herói, estava mais para bobo alegre, inocente útil. Grande farsa que dura até hoje.
Mas nos anos 70 o Brasil era barra pesada, no cinema em particular devido à censura. Deve ser por isso, por causa de “l’argent”, “la plata” que, em 1977, auge das pornochanchadas, que Joaquim, um intelectual, rodou o filme “Contos Eróticos” que eu gostaria de ver, no mínimo por curiosidade e para juntar as peças.
“Contos Eróticos” tinha quatro histórias sensuais, cada uma por um diretor diferente. O de Joaquim, “Vereda Tropical”, pasmem, narrava a preferência sexual do protagonista, não por mulheres, homens, cabras, dinheiro ou poder, mas por melancias… O “episódio foi objeto de censura, em 1977, uma “aberração”. O órgão federal libera somente a cena final do episódio, em que aparece o cantor Carlos Galhardo, sem qualquer associação com o restante do filme. Após várias instâncias e recursos, finalmente o Departamento de Censura libera o filme sem cortes, em outubro de 1979, para maiores de 16 anos, sob argumento de que “Absurdo se nos afigura o corte do episódio ‘Vereda Tropical’, uma comédia quase escrachada, não tendo, em nenhum momento, preocupação de induzir o espectador a ter relações amorosas com uma melancia”.
Como sempre, escrachada é a burrice da censura.
Por que fazer política? Por que fazer cinema? Por que fazer jornalismo?
Em maio de 1987, o jornal francês, “Libération”, perguntou a vários cineastas, “Por que você faz cinema?”.
Joaquim Pedro de Andrade respondeu de forma genial, romântica, mas genial: “Para chatear os imbecis / Para não ser aplaudido depois de seqüências dó-de-peito / Para viver à beira do abismo / Para correr o risco de ser desmascarado pelo grande público / Para que conhecidos e desconhecidos se deliciem / Para que os justos e os bons ganhem dinheiro, sobretudo eu mesmo / Porque, de outro jeito, a vida não vale a pena / Para ver e mostrar o nunca visto, o bem e o mal, o feio e o bonito / Porque vi “Simão no Deserto” / Para insultar os arrogantes e poderosos, quando ficam como cachorros dentro d’água no escuro do cinema / Para ser lesado em meus direitos autorais”.
Eu gostaria que os políticos, no caso Gabriel e Kalil, fizessem política como Joaquim fez cinema, no mínimo para chatear os imbecis, no máximo para que os justos e os bons ganhem dinheiro, sobretudo eu mesmo.
ps: A resposta de Joaquim Pedro de Andrade virou linda música com Adriana Calcanhoto, em 1994.