Diário de Campanha

Nunca sempre aos domingos

Tenho a estranha mania de dizer que o domingo é chato em todas as cidades do mundo, menos no Rio. Talvez por não morar no Rio. Mas a impressão é essa, o mar nunca fecha aos domingos, então… E olha que nem gosto de areia, água salgada, sol e calor panamenho de derreter catedrais quenianas e viadutos senegaleses!

Domingos são mais chatos onde o comércio e bares fecham. Cidades Mortas. Um tédio. Aquele silêncio, marasmo.

Em Belo Horizonte é mais chato ainda por causa do fator roça. É de roça este negócio de não trabalhar aos domingos, justamente num país tão cheio de feriados como o Brasil. Em São Paulo muita coisa, quase tudo, abre aos domingos. Depois vem a inveja de São Paulo, depois não sabem porque é a maior, mais rica e mais cosmopolita cidade do Brasil. Bom, “corrigindo henrique cardoso”: o domingo em São Paulo também não é tão chato. São Paulo é um colosso, mas nem tudo funciona aos domingos. Logo, domingo, tem lugares chatos em São Paulo. No Rio também, longe da praia.

Belo Horizonte… Se eu fosse prefeito, vereador…

Ninguém gosta de domingo porque é a véspera do escarro. Bobagem, eu trabalho aos domingos, em casa, mas trabalho. É uma distração, muito melhor que Domingão do Faustão e coisas parecidas. E mais, comércio aberto nos domingos, diminuiria o desemprego que grassa o Brasil. Domingo agitado, aberto, funcionando, combate a depressão. E é ótimo para quem não tem tempo de ir às compras durante a semana. Se uma compra é urgente é mister sacrificar as manhãs de sábado, o que estraga as noites de sexta… Se tudo funcionasse até mais tarde, aos sábados e domingos, quem quisesse podia dormir até mais tarde e ir às compras à tarde, emendando com um o almoço, um cinema, um passeio, um bar, etc…

Mania que este povo tem de fazer todo dia tudo sempre igual como todo mundo. Virou lei não trabalhar nos fins de semana, com tanta gente precisando comprar e vender: burrice. Ah! Os empresários vão pagar hora extra? Claro, mas também venderão mais, né? Criarão novos hábitos. Por que shoppings e supermercados podem abrir aos domingos e o resto não?

Amigo meu, poderoso advogado, confessou-me certa feita, que tem vergonha de receber clientes que não bebem, em BH. Disse ele que não há onde levá-los. É restaurante, jantar e hotel. Daí a fama de cemitério. Mesmo para quem bebe, BH corre o risco de não mais ser a cidade dos bares, com tanta lei seca, do silêncio; proibição de música ao vivo, mesas nas calçadas, etc…

É duro! Como diz um outro amigo, empresário da noite, em BH o fim vem antes do meio. Ele quis dizer que a cidade cria leis contra o cigarro, bebida e direção, silêncio; mas não dá condições para cumprirmos a lei. Por exemplo, o cara não pode beber e dirigir, mas também não pode beber e contar com transporte coletivo de qualidade e em números decentes; não pode contar com táxis que não querem trabalhar, mas combatem o Uber… É um atraso… Em BH (no Brasil) criam-se leis, mas não as condições para serem cumpridas. Ou o infeliz volta a pé ou é multado ou vai preso. Simples assim.

Outro amigo, outro poderoso advogado, mas em São Paulo, veio me visitar. Visita relâmpago como todo turista faz em BH porque aqui, se o cara não bebe, não tem o que fazer… Vergonhoso, né? BH é cidade dormitório, de passagem. O cara vem, resolve suas coisas e tchau!

Pois bem, este meu amigo, super paulistano, chegou numa sexta e ia voltar domingo à tarde. Tomamos todas, sexta e sábado. Domingo pela manhã, quis fazer algo diferente, mais saudável. Levei-o à feira da Afonso Penna. O cara, claustrofóbico, quase morreu. Tirei-o de lá às pressas e fomos conhecer os museus da Praça da Liberdade. Estavam fechados – não sei se atualmente abrem mais cedo – fiquei com vergonha! Voltamos aos bares e ele disse: “agora entendo por que vocês bebem tanto…”. Que vergonha!

Não quero, não gostaria mais de sentir vergonha de BH.

Escrevo sobre domingos em BH porque hoje, 11 de setembro e de sinistra memória; falando com o Gabriel, para nosso Diário de Estibordo (de campanha), ele me disse, impunemente, que começou o dia na feira da Afonso Pena. Conversou pelos cotovelos e descobriu gente lá com 35 anos de feira.

Eu não gosto daquela feira. Não é confortável. Não gosto de beber, nem de comer em pé. E não gosto do tipo de arte (hippie? artesanato?) e mercadoria vendidas lá. Ela poderia ser muito melhor, se setorizada, se mais confortável e menos apertada/lotada. Pra gente levar amigos claustrofóbicos sem desmaiarem… Ou amigos de bom gosto, simplesmente. Mas isso não é o assunto de hoje.

Talvez o assunto de amanhã seja outro detalhe do domingo político do Gabriel que almoçou, pasmem, quatro vezes… Ainda bem que é jovem, magro e adepto da bicicleta.

ps: domingos também precisam de sábado, melhor, de uma sexta bem aberta e querendo.